Você sabe o que pode fazer para seu filho (a) crescer melhor? Neste artigo vou explicar o que os pais podem fazer para auxiliar no crescimento dos seus filhos (as).
Sumário
Como o crescimento acontece?
O papel do sono no crescimento
Alimentação balanceada: o combustível para crescer
Atividade física regular: movimento que impulsiona
Quando se preocupar e procurar ajuda médica?
Como o crescimento acontece?
Quando falamos em crescimento estatural, estamos nos referindo, de maneira simples, ao aumento da altura da criança ou do adolescente ao longo do tempo. Esse processo fascinante acontece principalmente pelo alongamento dos ossos longos do corpo, como os das pernas (fêmur e tíbia) e dos braços.
Nas extremidades desses ossos, existem estruturas especiais chamadas cartilagens de crescimento, ou placas de crescimento. São elas que, sob a influência de diversos fatores, se multiplicam e se transformam em osso, fazendo com que o esqueleto “estique”.
O acompanhamento regular com o pediatra é crucial desde os primeiros dias de vida. Uma das ferramentas mais importantes que utilizamos no consultório são as curvas de crescimento. Elas são como mapas que nos mostram se a criança está seguindo um padrão de ganho de altura e peso esperado para sua idade e sexo.
Quem é a Dra Letícia Queiroz?
Sou médica endocrinologista pediátrica atuante no Rio de Janeiro- RJ.
Fiz a faculdade de Medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), residência médica em pediatria no Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ e residência médica em endocrinologia pediátrica no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), além de mestrado acadêmico em Medicina com estudo na área de Obesidade Infantil mais uma vez pela UERJ. Acredito que ser também pediatra me dá uma visão e um entendimento mais completos da criança e do adolescente. Busco sempre um atendimento empático e acolhedor, entendendo que cada paciente e cada família são únicos e precisam de um olhar individualizado.
O que os pacientes falam da Dra Letícia Queiroz
É verdade que a altura dos pais tem uma grande influência sobre a altura que o filho terá. Existe um cálculo que nos ajuda a estimar o chamado “alvo genético“. No entanto, é fundamental entender que esse alvo é um potencial.
Para que ele seja atingido, ou para que a criança cresça da melhor forma possível dentro do seu potencial individual, os fatores ambientais e os hábitos de vida desempenham um papel absolutamente decisivo.
O papel do sono no crescimento
Muitas vezes, pensamos no sono apenas como um momento de descanso para recarregar as energias para o dia seguinte. E, de fato, ele é essencial para isso. Mas, especialmente para crianças e adolescentes em fase de crescimento, o sono desempenha um papel muito mais profundo e ativo.
É durante o sono, mais especificamente nas fases de sono profundo, que o nosso corpo trabalha intensamente na produção e liberação de um personagem crucial para o crescimento: o hormônio do crescimento (GH).
Se a criança não dorme o suficiente ou se o sono é de má qualidade, interrompido e superficial, essa “produção” fica comprometida. A consequência direta pode ser um ritmo de crescimento mais lento do que o esperado para o potencial genético daquela criança.
A privação de sono não afeta apenas a estatura. Crianças que dormem pouco tendem a ter mais dificuldade de concentração na escola, irritabilidade, menor capacidade de aprendizado e até mesmo um sistema imunológico mais fragilizado, ficando mais suscetíveis a infecções. Portanto, garantir um sono de qualidade é um investimento completo na saúde e no bem-estar dos pequenos.
Mas, afinal, quanto sono é o ideal? As necessidades variam conforme a idade:
- Recém-nascidos (0-3 meses): Geralmente precisam de 14 a 17 horas de sono por dia.
- Bebês (4-11 meses): A recomendação é de 12 a 16 horas por dia, incluindo sonecas.
- Crianças pequenas (1-2 anos): Precisam de 11 a 14 horas de sono diárias, incluindo sonecas.
- Pré-escolares (3-5 anos): O ideal é de 10 a 13 horas de sono por noite.
- Crianças em idade escolar (6-13 anos): Necessitam de 9 a 11 horas de sono.
- Adolescentes (14-17 anos): Devem dormir de 8 a 10 horas por noite.
Para ajudar a construir uma rotina de sono saudável, algumas dicas práticas são valiosas:
- Estabeleça horários regulares: Tente manter horários consistentes para dormir e acordar, mesmo nos finais de semana. Isso ajuda a regular o relógio biológico da criança.
- Crie um ritual relaxante antes de dormir: Um banho morno, uma história, músicas calmas ou uma conversa tranquila podem ajudar a criança a desacelerar e se preparar para o sono.
- Garanta um ambiente propício: O quarto deve ser escuro, silencioso e com uma temperatura agradável. Uma cama confortável também é fundamental.
- Evite telas antes de dormir: A luz azul emitida por celulares, tablets e televisões pode interferir na produção de melatonina, o hormônio que nos ajuda a adormecer. O ideal é desligar esses aparelhos pelo menos uma hora antes de ir para a cama.
- Cuidado com alimentos e bebidas estimulantes: Evite oferecer cafeína (presente em refrigerantes, chás e chocolates) ou refeições pesadas perto da hora de dormir.
Lembrem-se, um sono de qualidade é um dos presentes mais preciosos que podemos oferecer para o desenvolvimento saudável de nossos filhos.
Alimentação balanceada: o combustível para crescer
Se o sono é o momento da “fabricação” do crescimento, a alimentação é, sem dúvida, o fornecimento da matéria-prima essencial. Uma alimentação balanceada e rica em nutrientes é o que garante que o corpo da criança tenha tudo o que precisa para se desenvolver de forma robusta e saudável.
Vamos pensar nos principais grupos de alimentos e seu papel nessa construção:
- Proteínas: Encontradas em carnes (boi, frango, peixe), ovos, leite e derivados (queijos, iogurtes), e também em leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) e oleaginosas (castanhas, nozes).
As proteínas são fundamentais para a construção e reparação de todos os tecidos do corpo, incluindo músculos, ossos e órgãos.
- Carboidratos: Fornecem a “energia” para o crescimento. Presentes em pães, massas, arroz, tubérculos (batata, mandioca, inhame) e frutas. São a principal fonte de combustível para o corpo, garantindo que a criança tenha disposição para brincar, estudar e, claro, crescer.
- Gorduras boas: Encontradas no azeite de oliva extravirgem, abacate, peixes ricos em ômega-3 (como salmão e sardinha) e oleaginosas.
São essenciais para o desenvolvimento do cérebro, para a absorção de algumas vitaminas (A, D, E, K) e para a produção de hormônios.
- Vitaminas e minerais: Cada um tem uma função específica, mas alguns merecem destaque especial quando pensamos em crescimento:
Cálcio: Fundamental para a formação e fortalecimento dos ossos e dentes. Principais fontes: leite e derivados, vegetais verde-escuros (couve, brócolis), gergelim.
Vitamina D: Essencial para a absorção do cálcio. A principal fonte é a exposição solar adequada e segura, mas também pode ser encontrada em peixes gordurosos e alimentos fortificados.
Ferro: Previne a anemia, que pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento cognitivo. Fontes: carnes vermelhas, fígado, leguminosas, vegetais verde-escuros.
Zinco: Mineral crucial para o crescimento celular, cicatrização e para o bom funcionamento do sistema imunológico. Fontes: carnes, frutos do mar, oleaginosas, leguminosas.
Não podemos esquecer da água! Manter a criança bem hidratada é vital para todas as funções do organismo, incluindo o transporte de nutrientes e a eliminação de toxinas.
Um alerta importante: dietas restritivas, especialmente aquelas feitas sem orientação de um profissional de saúde (médico ou nutricionista), podem ser muito prejudiciais para crianças em fase de crescimento.
Elas podem levar a carências nutricionais importantes, comprometendo não só a estatura, mas a saúde como um todo.
Da mesma forma, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados – ricos em açúcares, gorduras ruins, sal e aditivos químicos – oferece calorias vazias, sem os nutrientes necessários, e ainda pode contribuir para problemas como obesidade e diabetes infantil, que também podem interferir negativamente no crescimento.
O segredo está na variedade e no equilíbrio. Incentive o consumo de alimentos frescos e naturais, frutas, verduras, legumes, grãos integrais. Transforme as refeições em momentos prazerosos e de descobertas de novos sabores. Lembre-se que o exemplo dos pais é fundamental: crianças tendem a imitar os hábitos alimentares da família.
Atividade física regular: movimento que impulsiona
Para os ossos, a atividade física, especialmente aquela que envolve algum tipo de impacto (como correr, pular, dançar ou praticar esportes), funciona como um sinalizador. Esse impacto estimula as células ósseas a se fortalecerem e a aumentarem a densidade mineral óssea.
Ossos mais fortes e densos durante a infância e adolescência são a base para uma vida adulta com menor risco de osteoporose e fraturas. Além disso, o exercício regular contribui para o desenvolvimento de uma musculatura saudável, que dá suporte ao esqueleto e melhora a postura.
Mas os benefícios não param por aí. A atividade física regular melhora a circulação sanguínea, o que significa que mais oxigênio e nutrientes chegam a todos os tecidos do corpo, incluindo as cartilagens de crescimento.
Ela também ajuda a regular o metabolismo, melhora a sensibilidade à insulina (prevenindo o diabetes tipo 2) e contribui para a saúde cardiovascular desde cedo.
E, claro, não podemos esquecer do impacto positivo na saúde mental: crianças ativas tendem a ter menos estresse, ansiedade e sintomas depressivos, além de dormirem melhor – e já vimos como o sono é crucial!
Que tipo de atividade é ideal? A boa notícia é que não existe uma única resposta, e a variedade é bem-vinda!
- Para crianças pequenas: O foco deve ser em brincadeiras livres que estimulem o movimento amplo: correr no parque, pular corda, engatinhar, subir em brinquedos seguros, jogar bola. Atividades que desenvolvam a coordenação motora grossa e o equilíbrio são excelentes.
- Para crianças em idade escolar: Além das brincadeiras, é um bom momento para introduzir esportes coletivos (futebol, basquete, vôlei), artes marciais, natação, dança ou qualquer outra atividade que a criança demonstre interesse. O importante é que seja prazeroso!
- Para adolescentes: Podem continuar com os esportes ou explorar atividades como corrida, ciclismo, musculação (com orientação adequada), pilates, yoga.
Encontrar uma atividade que se encaixe na rotina e nos gostos pessoais é fundamental para a adesão a longo prazo.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças e adolescentes de 5 a 17 anos pratiquem pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa por dia, a maioria dos dias da semana. Isso pode parecer muito, mas pode ser acumulado ao longo do dia com diferentes atividades.
Um dos grandes vilões do crescimento saudável nos dias de hoje é o sedentarismo, muitas vezes associado ao tempo excessivo em frente às telas (televisão, videogames, celulares, tablets).
É fundamental estabelecer limites para o tempo de tela e incentivar ativamente as brincadeiras e os esportes ao ar livre.
Quando se preocupar e procurar ajuda médica?
Acompanhar o crescimento do seu filho é uma parte natural da paternidade e maternidade, mas é importante saber quando uma preocupação pode necessitar de uma avaliação médica mais especializada.
As consultas regulares com o pediatra são o primeiro e mais importante passo, pois ele monitora as curvas de crescimento e pode identificar desvios precocemente.
No entanto, alguns sinais de alerta podem indicar a necessidade de uma investigação mais aprofundada, possivelmente com um endocrinologista pediátrico
- Desaceleração ou parada do crescimento: Se você notar que a criança parou de crescer ou está crescendo em um ritmo muito mais lento do que antes, ou do que outras crianças da mesma idade (embora comparações devam ser feitas com cautela).
- Baixa estatura acentuada: Se a criança está consistentemente muito abaixo da curva de crescimento esperada para sua idade e sexo, ou se é significativamente mais baixa que os irmãos ou os pais (considerando o potencial genético).
- Crescimento muito acelerado para a idade: Embora raro, um crescimento excessivamente rápido também pode precisar de investigação.
- Sinais de puberdade precoce ou tardia: O início da puberdade (aparecimento de pelos pubianos, desenvolvimento das mamas em meninas, aumento dos testículos em meninos) antes dos 8 anos em meninas ou dos 9 anos em meninos, ou a ausência desses sinais após os 13 anos em meninas ou 14 anos em meninos, pode estar associado a alterações no crescimento.
- Presença de outros sintomas: Se a alteração no crescimento vier acompanhada de outros sintomas, como cansaço excessivo, perda ou ganho de peso inexplicado, alterações no apetite, dores ósseas persistentes, entre outros.
É fundamental evitar comparações excessivas entre crianças. Cada uma tem seu ritmo e seu potencial genético. O mais importante é o acompanhamento individualizado.
Se você tiver qualquer dúvida ou preocupação sobre o crescimento do seu filho, não hesite em conversar com o pediatra. Ele é o profissional mais indicado para avaliar a situação e, se necessário, encaminhar para um especialista.
Referências: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
Organização Mundial da Saúde (OMS)
American Academy of Pediatrics (AAP)
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