É comum que pais e os próprios jovens se sintam apreensivos ao notar o aumento do volume das mamas, mas é fundamental entender que, em muitas situações, essa condição é benigna e transitória.
Sumário
Mas afinal, o que é a ginecomastia?
Quando a ginecomastia é normal?
Quando a ginecomastia pode ser um sinal de alerta?
Tratamento para ginecomastia
Mas afinal, o que é a ginecomastia?
A ginecomastia, em termos simples, é o desenvolvimento de tecido mamário em meninos. Pode afetar uma ou ambas as mamas, e às vezes pode ser desigual. Embora a palavra possa soar alarmante, é importante saber que a ginecomastia é surpreendentemente comum, especialmente em certas fases da vida, como no período neonatal e durante a puberdade.
Nesses momentos, desequilíbrios hormonais naturais e esperados são os principais responsáveis por essa alteração.
Falar sobre ginecomastia é crucial por diversos motivos. Primeiro, para tranquilizar as famílias, mostrando que nem todo aumento mamário é sinal de doença grave.
Segundo, para informar sobre os momentos em que uma avaliação médica se faz necessária, garantindo que possíveis causas patológicas sejam investigadas e tratadas adequadamente.
Por fim, para oferecer acolhimento e orientação, pois sabemos que a ginecomastia, mesmo quando fisiológica, pode ter um impacto emocional e psicossocial significativo para o adolescente.
Nesse contexto, o endocrinologista pediátrico desempenha um papel central.
Quem é a Dra Letícia Queiroz?
Sou médica endocrinologista pediátrica atuante no Rio de Janeiro- RJ.
Fiz a faculdade de Medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), residência médica em pediatria no Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ e residência médica em endocrinologia pediátrica no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), além de mestrado acadêmico em Medicina com estudo na área de Obesidade Infantil mais uma vez pela UERJ. Acredito que ser também pediatra me dá uma visão e um entendimento mais completos da criança e do adolescente. Busco sempre um atendimento empático e acolhedor, entendendo que cada paciente e cada família são únicos e precisam de um olhar individualizado.
O que os pacientes falam da Dra Letícia Queiroz
Quando a ginecomastia é normal?
Em muitas situações, o aparecimento da ginecomastia é um evento completamente normal e esperado, fazendo parte do desenvolvimento. Chamamos essas ocorrências de ginecomastia fisiológica, ou seja, aquela que acontece devido às flutuações hormonais naturais do corpo em determinadas fases da vida.
Ginecomastia fisiológica neonatal
É relativamente comum que bebês recém-nascidos do sexo masculino apresentem um pequeno aumento das mamas.
Geralmente, essa ginecomastia neonatal é bilateral (nas duas mamas), pequena e indolor. Em alguns casos, pode até haver uma pequena secreção leitosa,
que também é normal e não deve ser espremida ou manipulada.
Tipicamente, essa condição desaparece sozinha em algumas semanas ou, no
máximo, em poucos meses.
É muito raro que a ginecomastia neonatal seja motivo de preocupação. No entanto, se o aumento mamário for muito grande, persistir por muitos meses, for unilateral (apenas de um lado), estiver associado a vermelhidão, calor local, dor significativa ou outros sinais incomuns, é importante comunicar ao pediatra para uma avaliação.
Ginecomastia fisiológica puberal
A puberdade é, sem dúvida, a fase da vida em que a ginecomastia fisiológica é mais
frequente e, muitas vezes, a que mais causa angústia nos meninos e em suas famílias.
Durante a puberdade, o corpo do menino passa por uma verdadeira “montanha-russa” hormonal.
Há um aumento significativo na produção de testosterona (o principal hormônio masculino), mas também pode ocorrer um aumento temporário nos níveis de estrogênio (o principal hormônio feminino, presente em pequenas quantidades nos homens) ou uma alteração na relação entre esses dois hormônios.
Esse desequilíbrio temporário entre a ação dos estrogênios (que estimulam
o crescimento do tecido mamário) e dos androgênios como a testosterona (que inibem esse crescimento) é a causa da ginecomastia puberal. É como se, por um período, os estrogênios tivessem uma “vantagem” relativa sobre a testosterona no tecido mamário.
A ginecomastia puberal costuma aparecer entre os 10 e 14 anos de idade, coincidindo com o meio da puberdade, mas pode surgir um pouco antes ou depois. Na maioria dos casos, ela regride espontaneamente em um período que varia de alguns meses a dois anos. Em uma minoria de rapazes, pode persistir por mais tempo.
Geralmente, a ginecomastia puberal se manifesta como um nódulo firme e emborrachado, palpável logo abaixo da aréola (a área mais escura ao redor do mamilo).
Pode ser unilateral no início, mas frequentemente se torna bilateral. A sensibilidade ou dor leve ao toque é comum, especialmente no início. O tamanho pode variar desde um pequeno “caroço” até um aumento mais perceptível do volume mamário.
É fundamental reconhecer que, mesmo sendo uma condição fisiológica e geralmente temporária, a ginecomastia puberal pode ter um impacto psicossocial significativo.
Os meninos podem sentir vergonha, constrangimento, ansiedade e ter sua autoestima afetada. Podem evitar atividades como ir à praia, piscina ou trocar de roupa na frente dos colegas.
Por isso, o acolhimento, a informação correta e o apoio emocional por parte da família e dos profissionais de saúde são essenciais.
Tanto a ginecomastia neonatal quanto a puberal são, na grande maioria das vezes, condições benignas e autolimitadas. A principal conduta é a tranquilização e a observação. No entanto, como veremos a seguir, existem situações em que o aumento mamário pode indicar um problema subjacente que necessita de investigação.
Quando a ginecomastia pode ser um sinal de alerta?
Embora a maioria dos casos de ginecomastia em crianças e adolescentes seja fisiológica e benigna, é crucial saber identificar quando o aumento mamário pode ser um sinal de alerta para uma condição médica subjacente, que chamamos de ginecomastia patológica.
Diferenciar entre as duas é fundamental, e é aí que a avaliação do endocrinologista pediátrico se torna indispensável.
A principal diferença reside na causa e na evolução. Enquanto a ginecomastia fisiológica é causada por desequilíbrios hormonais temporários e tende a regredir espontaneamente, a ginecomastia patológica geralmente tem uma causa específica que precisa ser identificada e tratada, e pode não desaparecer sem intervenção.
É importante lembrar que histórico familiar positivo para ginecomastia também pode contribuir para o surgimento da ginecomastia no adolescente.
Existem alguns “sinais vermelhos” que devem levar os pais e o paciente a procurar uma avaliação médica especializada sem demora. São eles:
- Ginecomastia antes da puberdade (excluindo o período neonatal): O aparecimento de tecido mamário em meninos antes dos sinais típicos de puberdade (como aumento dos testículos) não é comum e precisa ser investigado.
- Crescimento rápido ou progressivo das mamas: Se o aumento mamário está ocorrendo de forma muito acelerada ou continua a progredir significativamente ao longo do tempo, isso pode indicar uma causa patológica.
- Dor intensa ou persistente: Embora a ginecomastia puberal possa causar alguma sensibilidade, uma dor forte, constante ou que piora progressivamente não é usual.
- Secreção mamilar (galactorreia): A saída de qualquer tipo de líquido pelos mamilos (especialmente se for sanguinolento ou purulento) em meninos é um sinal de alerta importante.
- Nódulos endurecidos, fixos ou assimétricos: O tecido da ginecomastia fisiológica costuma ser firme e emborrachado, localizado centralmente abaixo da aréola. Se for palpado um nódulo muito duro, irregular, fixo aos tecidos profundos, ou se o aumento for marcadamente assimétrico (muito diferente entre as mamas), é preciso investigar.
- Sinais de excesso de hormônios femininos ou deficiência de hormônios masculinos: Isso pode incluir o desenvolvimento de outras características femininas, testículos que não crescem ou que diminuem de tamanho, ou um atraso significativo no desenvolvimento puberal.
- Sintomas sistêmicos: Perda de peso inexplicada, fadiga excessiva, alterações de humor significativas, dores de cabeça persistentes, alterações visuais, entre outros sintomas gerais, podem estar associados a condições que causam ginecomastia.
Causas Comuns de Ginecomastia Patológica
Diversas condições podem levar à ginecomastia patológica. Algumas das mais relevantes incluem:
- Medicamentos e disruptores endócrinos: Uma lista extensa de medicamentos pode causar ginecomastia como efeito colateral. Entre eles, podemos citar alguns anti-hipertensivos, antiácidos, antifúngicos, alguns medicamentos para o coração, hormônios (incluindo os usados indevidamente para ganho de massa muscular), medicamentos para questões comportamentais, entre outros.
Disruptores endócrinos muitas vezes presentes em pesticidas, plásticos e cosméticos também podem ser causa de ginecomastia.
- Doenças testiculares: Problemas nos testículos, como tumores (benignos ou malignos), infecções (orquite), trauma testicular ou condições que levam à diminuição da produção de testosterona (hipogonadismo primário), podem causar ginecomastia.
- Doenças da adrenal: As glândulas adrenais também produzem hormônios. Tumores adrenais que produzem precursores de estrogênio são causas raras, mas possíveis, de ginecomastia.
- Doenças da tireoide: O hipertireoidismo (produção excessiva de hormônios tireoidianos) pode, em alguns casos, estar associado à ginecomastia.
- Doenças hepáticas crônicas: Doenças graves do fígado, como a cirrose, podem alterar o metabolismo dos hormônios, levando a um aumento relativo dos estrogênios e, consequentemente, à ginecomastia.
- Doenças renais crônicas: A insuficiência renal crônica também pode afetar o equilíbrio hormonal.
- Síndromes genéticas: A Síndrome de Klinefelter é uma condição genética em que meninos nascem com um cromossomo X extra (XXY). Essa síndrome está frequentemente associada ao hipogonadismo e à ginecomastia.
- Obesidade: A obesidade é um fator importante. O tecido gorduroso (adiposo) possui uma enzima chamada aromatase, que converte androgênios (hormônios masculinos) em estrogênios (hormônios femininos).
Portanto, meninos com obesidade podem ter níveis mais altos de estrogênio circulante, o que pode estimular o crescimento do tecido mamário glandular (ginecomastia verdadeira).
Além disso, o acúmulo de gordura na região peitoral pode simular um aumento mamário, condição conhecida como pseudoginecomastia ou lipomastia. É comum que meninos obesos tenham uma combinação de ambas.
- Tumores: Embora raros em crianças e adolescentes, tumores que produzem hormônios (como hCG, um hormônio tipicamente associado à gravidez, mas que pode ser produzido por certos tumores testiculares ou extragonadais) ou tumores que produzem estrogênio diretamente podem causar ginecomastia. O câncer de mama em meninos é extremamente raro, mas deve ser considerado se houver um nódulo suspeito.
Lembre-se, a presença de um ou mais desses sinais de alerta ou a suspeita de uma dessas causas não significa automaticamente que há um problema grave, mas sim que uma investigação médica cuidadosa é necessária para esclarecer o quadro.
Tratamento para ginecomastia
O tratamento da ginecomastia depende da causa subjacente, da idade do paciente, da gravidade dos sintomas e do impacto psicossocial.
Em muitos casos, especialmente na ginecomastia fisiológica (neonatal e puberal), a condição regride espontaneamente sem necessidade de tratamento. Nesses casos, o acompanhamento médico regular é importante para monitorar a evolução.
- Tratamento da causa subjacente: Se a ginecomastia for causada por uma condição médica específica (como hipertireoidismo, tumor…) ou pelo uso de medicamentos, o tratamento será direcionado para essa causa primária. A suspensão ou substituição de medicamentos causadores, sob orientação médica, pode resolver o problema.
- Tratamento medicamentoso: Em casos específicos, medicamentos podem ser prescritos. É importante ressaltar que o uso de medicamentos deve ser cuidadosamente avaliado e monitorado por um médico especialista, pois podem ter efeitos colaterais.
- Cirurgia: A cirurgia para remover o excesso de tecido mamário pode ser considerada em casos de ginecomastia persistente e sintomática, especialmente quando causa desconforto físico ou emocional significativo. Geralmente, é uma opção para adolescentes mais velhos, após a puberdade, ou para adultos.
A maioria dos casos de ginecomastia em crianças e adolescentes é benigna se resolve com o tempo. No entanto, é fundamental procurar orientação médica para um diagnóstico correto e um plano de tratamento adequado, se necessário.
Se você identifica que seu filho precisa de uma avaliação com endocrinologista pediátrica, posso ajudar nesta avaliação e acompanhamento.
Referências: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Endocrine Society.
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