Você sabe o que é a endocrinologia pediátrica? Já se perguntou se seu filho precisa passar por uma avaliação com um endocrinologista infantil?
Continue lendo este artigo que explico melhor sobre a minha área de atuação.
Sumário
O que é a Endocrinologia Pediátrica?
O que a Endocrinologia Pediátrica estuda?
Como é a formação de uma endocrinologista pediátrica?
Quais são as doenças e problemas de saúde tratados na Endocrinologia pediátrica?
Quais são os tratamentos realizados pela Endocrinologia Pediátrica?
O que é a Endocrinologia Pediátrica?
A endocrinologia pediátrica é uma subespecialidade da pediatria que se concentra no diagnóstico e tratamento de distúrbios hormonais e metabólicos em crianças e adolescentes.
É a área da pediatria que estuda o sistema endócrino, responsável pela produção e regulação de hormônios, e o metabolismo.
Desta forma, a endocrinologia pediátrica engloba o estudo do crescimento, puberdade, controle e regulação de peso, glicose, colesterol e triglicerídeos, além da avaliação da saúde óssea e de diversos hormônios produzidos por nossas glândulas, como hormônios da tireoide e hormônio de crescimento.
Quem é a Dra Letícia Queiroz?
Sou Letícia Queiroz, médica endocrinologista pediátrica atuante no Rio de Janeiro- RJ.
Fiz a faculdade de Medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), residência médica em pediatria no Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ e residência médica em endocrinologia pediátrica no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), além de mestrado acadêmico em Medicina com estudo na área de Obesidade Infantil mais uma vez pela UERJ. Acredito que ser também pediatra me dá uma visão e um entendimento mais completos da criança e do adolescente. Busco sempre um atendimento empático e acolhedor, entendendo que cada paciente e cada família são únicos e precisam de um olhar individualizado.
O que os pacientes falam da Dra Letícia Queiroz
O que a Endocrinologia Pediátrica estuda?
- Hormônios: Estudo das glândulas endócrinas e dos hormônios que elas produzem, como insulina, hormônios da tireoide, hormônio de crescimento, hormônios da puberdade, hormônios das adrenais, hormônio das paratireoides e hormônios produzidos pelo tecido adiposo (tecido de gordura corporal) por exemplo.
- Crescimento e Puberdade: Avaliação do crescimento físico e desenvolvimento puberal das crianças. A puberdade é a fase de transição entre a infância e a vida adulta.
- Metabolismo: Análise de como o corpo utiliza nutrientes e energia, incluindo condições como excesso de peso, diabetes e alterações de colesterol e triglicerídeos.
Quais são as doenças e problemas de saúde tratados na Endocrinologia pediátrica?
- Obesidade Infantil ou baixo peso: Excessiva acumulação de gordura corporal que pode levar a complicações de saúde ou peso abaixo do esperado para idade e/ou para estatura que também pode trazer algum prejuízo a saúde da criança e adolescente.
A obesidade infantil pode ser primária, que representa a maior parte dos casos e se relaciona ao consumo excessivo de calorias, sedentarismo, tempo de tela excessivo e fatores de risco gestacionais e familiares, ou secundária, quando acontece em decorrência de algum outro problema como uma disfunção hormonal ou uso de medicamentos como o corticoide por exemplo.
A obesidade infantil é um desafio crescente em nossa sociedade, e a endocrinologia pediátrica tem um papel fundamental nesse cenário.
Embora a maioria dos casos de obesidade seja multifatorial (envolvendo dieta, sedentarismo e genética), em algumas situações, distúrbios hormonais podem contribuir para o ganho de peso excessivo.
Além disso, a obesidade pode levar a outras complicações metabólicas, como alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos, e até mesmo o desenvolvimento de diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes.
Quando uma criança ou adolescente apresenta problemas de peso, seja obesidade ou baixo peso, nossa primeira ação é uma avaliação completa.
Isso inclui uma análise detalhada do histórico familiar, hábitos alimentares, nível de atividade física e um exame físico minucioso.
Podemos solicitar exames de sangue para verificar os níveis hormonais, a função da tireoide, o metabolismo da glicose e dos lipídios, e descartar causas hormonais para o ganho ou perda de peso.
- Distúrbios do Crescimento como baixa estatura ou alta estatura: o crescimento é um dos indicadores mais importantes da saúde infantil.
Diversas condições podem prejudicar o crescimento ou gerar um crescimento excessivo. O crescimento da criança é monitorado em cada consulta, utilizando gráficos de crescimento específicos para idade e sexo.
Se a criança estiver crescendo abaixo do esperado para sua idade e potencial genético, ou se houver um crescimento excessivo, iniciamos uma investigação. Isso pode envolver exames de sangue para avaliar hormônio de crescimento, hormônios da tireoide, e outros marcadores ósseos.
Em alguns casos, podemos solicitar um raio-X de mão e punho para avaliar a idade óssea da criança, que nos dá uma ideia do potencial de crescimento restante.
Algumas condições que geram baixa estatura são: deficiência de hormônio, síndrome de Turner, Síndrome de Noonan, crianças nascidas pequenas para idade gestacional, baixa estatura familiar, doença renal crônica e acondroplasia.
Algumas causas de alta estatura são: síndromes genéticas, por exemplo a Síndrome de Klinefelter, Síndrome de Marfan ou Síndrome de Sotos, e gigantismo.
- Puberdade Precoce ou Tardia: alterações no início ou na duração do desenvolvimento puberal. A puberdade é um período de grandes transformações físicas e emocionais.
Quando a puberdade se inicia muito cedo (puberdade precoce) ou muito tarde (puberdade tardia), ou quando há um desenvolvimento atípico, nossa intervenção é importante.
Na puberdade precoce, podemos investigar a causa (que pode ser central, envolvendo o cérebro, ou periférica, envolvendo as glândulas sexuais ou adrenais).
A puberdade precoce é identificada quando os caracteres sexuais secundários se desenvolvem antes dos 8 anos nas meninas ou antes dos 9 anos nos meninos.
Em alguns casos, podemos indicar um tratamento para “frear” o avanço da puberdade, permitindo que a criança tenha mais tempo para crescer e amadurecer emocionalmente antes de passar por todas as mudanças corporais.
Na puberdade tardia, buscamos identificar a razão do atraso e, se necessário, iniciar um tratamento para induzir o desenvolvimento puberal.
A puberdade é considerada atrasada quando estes mesmos marcos se iniciam após os 13 anos nas meninas ou após os 14 anos nos meninos.
Casos em que a menina iniciou a puberdade no tempo correto, mas a primeira menstruação não acontece até os 15 a 16 anos também são considerados atraso de puberdade e devem ser investigados a fim de se encontrar a causa deste atraso e de ser instituído tratamento.
Em casos de hirsutismo (excesso de pelos) em meninas, investigamos a causa hormonal e orientamos o tratamento adequado para controlar o excesso de pelos e prevenir outras complicações.
- Doenças da tireoide: problemas na tireoide, como o hipotireoidismo (produção insuficiente de hormônios) ou o hipertireoidismo (produção excessiva), podem afetar o crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar geral da criança.
O hipotireoidismo congênito, por exemplo, é detectado logo ao nascimento pelo teste do pezinho e, se não tratado precocemente, pode causar atraso no desenvolvimento neurológico.
Também avaliamos nódulos na tireoide e outras condições.
Crianças e adolescentes têm menos nódulos tireoidianos do que adultos, mas a chance de malignidade é maior, por isso devem ser avaliados sempre com atenção por um especialista.
- Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2: O diabetes é uma doença crônica que afeta a forma como o corpo processa o açúcar no sangue. Na pediatria, o tipo mais comum é o diabetes tipo 1, uma doença autoimune em que o pâncreas para de produzir insulina.
No entanto, com o aumento da obesidade, o diabetes tipo 2, antes mais restrito a adultos, tem se tornado mais frequente em crianças e adolescentes.
Além disso, também lidamos com outros tipos de diabetes.
Nosso trabalho envolve o diagnóstico, o acompanhamento contínuo, a educação do paciente e da família sobre o manejo da doença (incluindo monitoramento da glicemia, aplicação de insulina, dieta e exercícios), e a prevenção de complicações.
- Doenças do metabolismo do colesterol e triglicerídeos: alterações que geram aumento de colesterol e/ou triglicerídeos, sejam de origem genética como nos casos de dislipidemia familiar ou devido ao estilo de vida não saudável.
- Doenças das adrenais: as glândulas adrenais, localizadas acima dos rins, produzem hormônios importantes para o estresse, o metabolismo e o equilíbrio de sal e água no corpo.
As doenças das glândulas adrenais, embora menos comuns, são de grande importância devido ao papel vital dos hormônios que elas produzem.
Condições como a insuficiência adrenal (produção insuficiente de hormônios adrenais) que pode ser uma emergência médica, ou a doença de Cushing (excesso de produção de cortisol) são tratadas por nós.
Além disso, a endocrinologia pediátrica aborda outras doenças das adrenais , como a hiperplasia adrenal congênita.
A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é um grupo de doenças genéticas que afetam a produção de hormônios adrenais, podendo causar problemas na diferenciação sexual e no equilíbrio de sal e água no corpo.
- Doenças do metabolismo ósseo: crianças e adolescentes também podem apresentar baixa densidade mineral óssea e osteoporose.
Essas condições podem ser geradas por doenças da paratireoide, por deficiências hormonais como deficiência de hormônio de crescimento ou hipogonadismo, que é a deficiência dos hormônios sexuais, por raquitismo, que é uma doença causada pela diminuição da mineralização óssea da placa de crescimento ou podem ser secundárias ao uso de medicamentos, como por exemplo uso de corticoides.
- Sequelas endocrinológicas do tratamento oncológico: em alguns casos, no tratamento de um câncer infantil o paciente pode desenvolver sequelas endocrinológicas devido a alteração dos níveis hormonais.
Quadros que necessitem por exemplo de radioterapia de região de cabeça podem levar a uma produção excessiva ou deficiente de hormônios da hipófise, que é nossa glândula mestra que controla a maior parte das demais glândulas.
Já casos por exemplo que necessitem da retirada da glândula como tratamento, por exemplo no caso de cânceres de tireoide, ovário ou acometimento de testículos também vão culminar em deficiências dos hormônios produzidos por estas glândulas.
- Lesões e tumores de hipófise: os tumores da região de hipófise como os micro e macroadenomas, e os craniofaringiomas também são acompanhados pelo endocrinologista pediátrico. Nestes casos pode haver excesso ou falta de produção de hormônios hipofisários.
Como é a formação de uma endocrinologista pediátrica?
Para se tornar médica endocrinologista pediátrica no meu caso foi necessário além da faculdade de Medicina (6 anos de estudo), a residência médica em pediatria (2 anos de estudo) e depois uma segunda residência em endocrinologia pediátrica (2 anos de estudo). Foi uma longa jornada para chegar até aqui.
A carga horária da residência médica é intensa, geralmente de 60 horas semanais, incluindo plantões, o que garante uma vasta experiência prática no diagnóstico e tratamento das diversas condições endocrinológicas que afetam crianças e adolescentes.
Foi uma longa jornada para chegar até aqui.
Além disso obtive o título de especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o título de especialista em Endocrinologia Pediátrica (certificado de área de atuação) pela SBP e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Fiz ainda mestrado acadêmico em Medicina com estudo na área de obesidade infantil, importante tema diante do aumento da prevalência do excesso de peso em crianças e adolescentes.
Acredito que ser também pediatra além de endocrinologista pediátrica, além de ter tido a experiência de atuar em setores públicos e privados, me ajudem a ter um olhar mais completo e diferenciado da saúde da criança e do adolescente.
Quais são os tratamentos realizados pela Endocrinologia Pediátrica?
- Tratamento com hormônio de crescimento: tratamento da baixa estatura quando identificada pelo endocrinologista infantil a indicação do seu uso. Nem toda baixa estatura terá necessidade de ser tratada com hormônio de crescimento ou se beneficiará do seu uso, por isso a necessidade do acompanhamento por médico especialista.
A intervenção precoce é crucial em muitos distúrbios de crescimento para otimizar o resultado final.
- Tratamento com bloqueador de puberdade ou indutor de puberdade: nos casos de puberdade precoce ou atrasada, pode ser benéfico o tratamento com medicamentos.
- Educação e Gestão do Diabetes: manejo das alterações de glicose das crianças e adolescentes diabéticos ou pré-diabéticos necessário para diminuição da chance de sequelas e comprometimentos relacionados ao diabetes mellitus.
O tratamento envolverá o uso de insulina no caso do diabetes do tipo 1 e de medicamentos orais ou injetáveis no caso de diabetes do tipo 2, monitorização glicêmica, acompanhamento multidisciplinar, prática de atividade física entre outras medidas.
- Tratamento da obesidade infantil e alterações de colesterol e/ou triglicerídeos: se identificarmos um desequilíbrio hormonal, o tratamento será direcionado a ele.
No entanto, na maioria dos casos de obesidade, a causa não é hormonal, mas sim uma combinação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais.
Nesses casos, nosso papel é fundamental na orientação e no manejo das complicações metabólicas associadas à obesidade, como o pré-diabetes, o diabetes tipo 2, a dislipidemia (alterações de colesterol e triglicerídeos) e a hipertensão arterial.
O tratamento da obesidade infantil envolverá então prática regular de atividade física, alimentação balanceada, rotina de sono adequada e em alguns caso o uso de medicações pode ser necessário, tanto para o tratamento de comorbidade associadas como as citadas acima, como para a perda de peso.
Em alguns casos a cirurgia bariátrica pode ser indicada.
Nosso objetivo não é apenas a perda de peso, mas a promoção de hábitos saudáveis que perdurem por toda a vida.
Em alguns casos a cirurgia bariátrica, que será realizada por um cirurgião, mas a partir da indicação de uma endocrinologista pediátrica.
- Tratamento das alterações da tireoide: o hipotireoidismo congênito, detectado pelo teste do pezinho, é um exemplo clássico de como a intervenção precoce é vital.
O tratamento com hormônio tireoidiano sintético, iniciado nos primeiros dias de vida, previne o atraso no desenvolvimento neurológico.
Em crianças e adolescentes, o hipotireoidismo adquirido pode causar fadiga, ganho de peso, constipação, pele seca e problemas de concentração.
O hipertireoidismo, por outro lado, pode levar a perda de peso, taquicardia, nervosismo e dificuldade para dormir.
Em ambos os casos, o diagnóstico e o tratamento adequados são essenciais para restaurar o equilíbrio metabólico e garantir o bem-estar da criança.
No hipotireoidismo é feita a reposição de hormônio tireoidiano sintético e no hipertireoidismo geralmente começamos o tratamento com medicamento apropriado, mas outras abordagens podem ser necessárias.
- Tratamento da osteoporose juvenil e da baixa densidade mineral óssea: ajuste do aporte de cálcio e vitamina D além de medicamentos específicos a partir da identificação da causa da alteração óssea.
Em todas as condições mencionadas, um fator é comum e de extrema importância: o diagnóstico precoce.
Muitas das doenças endócrinas na infância, se não identificadas e tratadas a tempo, podem ter consequências significativas e irreversíveis no desenvolvimento da criança.
O teste do pezinho, por exemplo, é um excelente exemplo de como a triagem neonatal pode mudar o prognóstico de doenças como o hipotireoidismo congênito, permitindo uma intervenção imediata e prevenindo sequelas graves.
Além disso, a endocrinologia pediátrica raramente atua sozinha. A complexidade das condições que tratamos exige, muitas vezes, uma abordagem multidisciplinar.
Trabalhamos em estreita colaboração com pediatras gerais, nutricionistas, psicólogos e outros especialistas.
Essa rede de apoio garante que a criança receba um cuidado integral, que vai além do aspecto hormonal, abrangendo o bem-estar físico, emocional e social.
Por fim, são muitas as condições avaliadas e acompanhadas por uma endocrinologista pediátrica como descrito neste artigo. A saúde hormonal é um pilar fundamental para o desenvolvimento infantil.
Ser uma endocrinologista pediátrica é ter a oportunidade de impactar positivamente a vida de crianças e adolescentes, ajudando-os a crescerem saudáveis e a atingirem seu pleno potencial.
Caso você ou o pediatra do seu filho (a) identifique a necessidade de uma avaliação endocrinológica, posso te auxiliar.
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