Dra. Letícia Queiroz – Endocrinologia e Pediátrica no Rio de Janeiro – RJ

Você sabe identificar se seu filho está com excesso de peso? Sabe os riscos à saúde relacionados a obesidade infantil? Sabe como tratá-la? Neste artigo falarei sobre este tema tão importante na nossa sociedade, sobre como identificar o excesso de peso, quais os fatores de risco e causas e como tratá-lo.

Sumário

O que é obesidade infantil?

Como está a obesidade infantil no Brasil?

Quais as possíveis causas para a obesidade infantil?

Quais os principais fatores de risco para a obesidade infantil?

Como diagnosticar a obesidade infantil?

Quais são as principais questões e problemas de saúde que a obesidade infantil pode gerar?

Quais os possíveis tratamentos da obesidade infantil?

O que é a obesidade infantil?

 A obesidade infantil é definida como um acúmulo excessivo de gordura corporal em crianças e adolescentes, que pode prejudicar a saúde. É tipicamente avaliada através do Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso da criança (em quilogramas) pela altura (em metros) ao quadrado.

Diversos estudos mostram que o excesso de peso na infância e adolescência já se relaciona ao aumento de risco cardiovascular e que o processo de aterosclerose (acúmulo de placas de gordura) nas artérias já se inicia na infância.

Na pediatria, não adotamos os mesmos valores estabelecidos para adultos, pois precisamos considerar que as crianças e adolescentes estão em fase de crescimento e que o peso e altura esperados variam de acordo com a idade.  

Sendo assim, consideramos sobrepeso as crianças maiores do que 5 anos e adolescentes com IMC acima de +1 desvio-padrão em relação à média no gráfico de IMC para sexo e idade da Organização Mundial de Saúde (OMS) e com obesidade as crianças maiores do que 5 anos e adolescentes com IMC acima de +2 desvios-padrões em relação á média no gráfico de IMC para sexo e idade.

Obesidade grave é definida quando o IMC está maior do que + 3 desvios-padrões em relação à média para sexo e idade.

Para as crianças abaixo de 5 anos, é considerado obesidade quando o IMC se encontra acima de +3 desvios-padrões em relação ao sexo e idade.

Os gráficos abaixo ilustram o explicado acima para crianças e adolescentes acima de 5 anos:

No entanto, como em alguns casos específicos o excesso de peso pode não representar um excesso de gordura corporal, outras medidas devem também ser levadas em consideração, como a avaliação da circunferência abdominal.

Quem é a Dra Letícia Queiroz?

Sou Letícia Queiroz, médica endocrinologista pediátrica atuante no Rio de Janeiro- RJ.

Fiz a faculdade de Medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), residência médica em pediatria no Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ e residência médica em endocrinologia pediátrica no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), além de mestrado acadêmico em Medicina com estudo na área de Obesidade Infantil mais uma vez pela UERJ. Acredito que ser também pediatra me dá uma visão e um entendimento mais completos da criança e do adolescente. Busco sempre um atendimento empático e acolhedor, entendendo que cada paciente e cada família são únicos e precisam de um olhar individualizado.

O que os pacientes falam da Dra Letícia Queiroz

Como está a obesidade infantil no Brasil?

A obesidade infantil vem crescendo não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo o Atlas de Obesidade de 2024, a prevalência de sobrepeso e obesidade infantil no ano de 2020 era de 34% e a previsão é de que seja de 50% no ano de 2050, previsão de aumento bastante impressionante, principalmente considerando o impacto da obesidade na saúde como um todo.

Quais as possíveis causas para a obesidade infantil?

A obesidade infantil pode ser primária ou secundária.

Obesidade Primária: Esta forma de obesidade é a mais comum e está relacionada a fatores genéticos, comportamentais e ambientais. É frequentemente associada a hábitos alimentares inadequados, como grande consumo de industrializados, bebidas açucaradas e ultraprocessados, à falta de atividade física e aumento do sedentarismo, e ao tempo de tela excessivo.

Obesidade Secundária: Esta forma é menos comum e resulta de condições médicas existentes, como problemas hormonais (por exemplo, Síndrome de Cushing), genéticos (como a síndrome de Prader-Willi), outras doenças que afetam o metabolismo ou uso frequente ou em altas doses de medicamentos que levam ao excesso de peso como o corticoide.

A obesidade secundária exige uma abordagem diagnóstica mais extensa para identificar e tratar a causa subjacente.

Quais os principais fatores de risco para a obesidade infantil?

Os principais fatores de risco para a obesidade infantil incluem:

  • Genéticos: História familiar de obesidade. Alguns estudos mostram que quando ambos os pais tem excesso de peso a criança tem uma chance de cerca de 80% de também ter excesso de peso.
  • Ambientais e comportamentais: Hábitos alimentares inadequados como uma alimentação rica em ultraprocessados, bebidas açucaradas e fast-food, estilo de vida sedentário e falta de oportunidades para atividade física, além de tempo de tela excessivo também aumentam as chances de obesidade infantil.
  • Psicológicos: Estresse, depressão e ansiedade, que podem levar a hábitos alimentares inadequados, buscando alimentos mais calóricos e em maior quantidade a fim de obter conforto com a comida.
  • Doenças ou uso de medicamentos associados a obesidade: como citado acima, algumas doenças podem gerar obesidade como síndrome de Cushing e Prader-Willi e o uso de alguns medicamentos também, como o uso de corticoide recorrente ou em altas doses.

Como diagnosticar a obesidade infantil?

Para diagnosticar a obesidade infantil, é necessário realizar uma avaliação clínica abrangente que inclua:

  • Medição do peso e altura da criança para calcular o IMC.
  • Medição da circunferência abdominal- aumentada se acima do percentil 90 para sexo e idade.
  • Cálculo da relação cintura/ estatura- aumentada se acima de 0,5, sendo mais específica para avaliação de adiposidade central (gordura abdominal) e identificação de maior risco cardiovascular.
  • Avaliação do histórico médico e familiar, a fim de identificar possíveis causas genéticas de excesso de peso e maior risco para doenças como diabetes mellitus do tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia.
  • Exame físico para verificar sinais de comorbidades, como a presença de acantose nigricans (mancha escura ao redor do pescoço e demais áreas de dobras), que pode se relacionar à resistência insulínica e maior risco de diabetes, além de aferição de pressão arterial para identificação precoce de hipertensão ou pressão arterial elevada, que vão exigir tratamentos.
  • Análise de hábitos alimentares e níveis de atividade física para entender como o ambiente e os hábitos de vida do paciente estão influenciando seu ganho de peso e para identificar quais serão as possíveis mudanças que serão necessárias na rotina não só da criança e do adolescente, mas de toda a família, entendendo que todos estão juntos no mesmo propósito.

Quais são as principais questões e problemas de saúde que a obesidade infantil pode gerar?

A obesidade infantil está associada a várias comorbidades que podem afetar a saúde a curto e longo prazo, incluindo:

  • Diabetes mellitus do tipo 2, pré-diabetes e resistência insulínica
  • Hipertensão arterial ou pressão arterial elevada (pré-hipertensão)
  • Dislipidemias (alterações no colesterol e triglicerídeos

  • Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica ou Esteatose Hepática Metabólica: corresponde ao acúmulo de gordura no fígado pelo excesso de peso e que pode gerar ao longo do tempo fibrose e inclusive necessidade de transplante de fígado
  • Apneia do sono, que é uma doença que provoca pausas respiratórias durante o sono e tem como sintomas roncos noturnos altos e sonolência excessiva durante o dia
  • Problemas ortopédicos como desalinhamento de coluna, alterações no andar, além de dores frequentes em coluna e joelhos por exemplo
  • Distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e baixa autoestima
  • Alterações de puberdade, mais frequentemente com puberdade precoce em meninas
  • Síndrome dos ovários policísticos, que também se relaciona a resistência insulínica
  • Pseudotumor cerebral, que é uma doença que provoca um aumento da pressão intracraniana gerando principalmente dores de cabeça, vômitos e alterações visuais

Quais os possíveis tratamentos da obesidade infantil?

O manejo da obesidade infantil envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir:

  • Modificações na dieta: Incentivar uma alimentação saudável e equilibrada, com ênfase em frutas, vegetais, grãos integrais e redução do consumo de açúcares e gorduras saturadas, como ultraprocessados e fast-food.

É recomendado uma ingesta de cerca de 5 porções de frutas, legumes e verduras por dia, além de hidratação adequada com água ao longo do dia (às vezes a sensação de sede pode se confundir com fome).

  • Aumento da atividade física: é recomendado pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa diariamente para um bom controle do peso.
  • Intervenções comportamentais: Programas que ensinem habilidades de enfrentamento e modificação de comportamento.
  • Medicamentos: Em casos selecionados, onde as intervenções não têm sucesso, pode ser considerada a utilização de medicamentos para controle do peso, sempre sob supervisão médica.

Entre as medicações mais indicadas estão os análogos de GLP-1, medicações associadas a perda de peso e liberada para uso em adolescentes quando indicado. Cada caso deve ser individualizado a fim de saber se a medicação é indicada e segura para o paciente.

  • Cirurgia bariátrica: Em adolescentes com obesidade grave e comorbidades significativas, a cirurgia pode ser considerada como uma opção.

Conte comigo para acolher, acompanhar e tratar seu filho nesta jornada de buscar um estilo de vida mais saudável e tratamento da obesidade infantil.

Referências: Atlas Mundial da Obesidade 2024

                           Sociedade Brasileira de Pediatria

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